O Nada Necessário.

Nada do que foi construído, desde sempre, é o que seria verdadeiramente necessário.

A mente voa com os pés no chão.

Enquanto houver tempo a frente
quase tudo que almejas
poderá ser realizado.
E se conseguires
chegar próximo de alcançar
tudo aquilo que gostarias,
esta, sim, será uma demonstração
de que todos os seus anseios eram
compatíveis à sua realidade.
Estará aí, a contastação
de que sua mente pode voar
mas seus pés continuaram no chão.

Este foi o erro.

Eu era uma peça. Fui produzida por uma necessidade. Muito rápido me encaixaram na posição correta, onde a máquina funcionaria sem novas interrupções. 

Mas os engenheiros, os responsáveis pela minha concepção, por estarem pressionados com o meu prazo de instalação no maquinário, não checaram se haviam imperfeições internas. 

E este foi o erro. 

Por muito, ali estar, executando a mesma função, em turnos rotineiros, as imperfeições internas modificaram minha estrutura externa.

Minhas ranhuras, que deveriam se encaixar nas engrenagens daquele complexo sistema, não mais estavam perfeitas.

Essa é a história da minha trajetória: peça moldada por uma necessidade, inserida sem muitas opções de escolha e modificada pelas rotina de repetições.

Aceito tudo

Ao calar do dever
o início do discurso
proporcionado pelo ócio.
Aprecio o que é fundamental
e aceito tudo
que se faz necessário.

Olhando as montanhas.

Eu queria ir para o Tibet.

Ficar lá e aprender tudo que se pode aprender.

Depois ir para o Cazaquistão, e ficar só olhando as montanhas até entender o comportamento dos ventos que por lá sopram.

E seguir em direção da fronteira do Marrocos e me juntar ao mercado e as suas práticas de barganhas.

Se fosse possível, passar algumas semanas no locais mais austrais, para poder presenciar dias sem luz, o sol da meia noite e auroras boreais.

E quando não me faltassem mais assuntos, procurar as mais eloquentes sociedades e prestar muita atenção apenas no que não é dito.

A tradição do mensageiro.

Reuniu os conselheiros do Reinado nômade e escutou seus argumentos. Não havia saída. Precisava ir atrás de uma idéia antiga. Foi avisado que, os que ficassem poderiam, facilmente, se esquecerem dele. Procurariam substituir sua ausência e isto, para ele, significava perder, o que considerava ser sua única riqueza, pois nada além disto o prendia.

O tempo se passa e a jornada o afasta. Mas por ocasiões, mantinha notícias de seus novos dias, em outros domínios, através de seu único mensageiro.

E neste dia, o de hoje, seu mensageiro, trouxe novas notícias. A mensagem era consequência de sua decisão, tinha plena consciência disso. Portanto, entende.

Se recordou do que havia conquistado, e sente o peso da perda. Lamenta. Se entristece. Mas sua mente precisa o ajudar. Transformará isso em mais um incentivo, outro empurrão, para continuar a sua jornada e conseqüente expansão de sua mente e de seus territórios.

Antes do mensageiro partir, pediu para que o mesmo relatasse a história da conquista de seu próprio reino. Todo o seu passado, tinha tudo em sua mente, contudo, gostaria de relembrar, em detalhes, pelas palavras do mensageiro, tudo que havia vivido. Quer rever toda a sua história...pois ela o faz se sentir bem: ela sempre o fez se sentir muito bem.

Não entregou e não mais entregará ao mensageiro seus relatos. Na despedida, nem o mensageiro, nem ele se falam, e assim sendo, por tradição, nunca mais irão se encontrar.

Sonhando Acordado

Há 22 dias.

E não me lembro de ter sonhado.

Acho que cessaram os pensamentos enquanto durmo.

Parece-me que todos eles estão querendo fazer parte do meu dia.

E por estarem, o dia inteiro, muito ativos, estão aproveitando para descansar junto comigo.

Mas estes pensamentos, especificamente os que durante o sono surgem, não se manifestam durante o dia.

Nesse caso, tenho a explicação do porque ando tanto a pensar:

Resolveram, todos, de dia, se mostrar.

A nova visão.

Mal abriu os olhos para a nova visão proporcionada, pela abertura de uma rachadura no que considerava tempo, que não teve certeza de estar escutando o som do que se consegue pensar com o coração.

O eminente toque do aviso de partida.

Não quero me perder na minha própria realidade. Provavelmente seria um caminho sem volta. Não haveria retorno.
Talvez se alguém me trouxesse de volta, estaria por aqui novamente.
Mas quem conseguiria refazer todo o trajeto até o ponto de me encontrar? E mesmo que isso fosse possível, seria necessário percorrer o mesmo caminho em velocidade superior a minha, pois do contrário nunca me alcançaria.
Afinal, seguirei em frente no mesmo ritmo. Por vezes mais lento, ao me sentir confortável, e em outras mais rápido, por sentir o eminente toque do aviso de partida.
Siga meu caminho em velocidade superior a minha e terás a chance de, também, nunca mais retornar e, inclusive, de passar por mim sem me notar.
Ocorreria de estarmos sem, qualquer que seja, a capacidade de fixar a idéia no caminho de volta.

Aqui temos uma breve história.

Experimente assim que acordar de um sonho, anotar o que se lembra dele. Isto é um exercício. Exercício este, passado pela minha irmã. A sua terapeuta o utilizava para enriquecer as sessões entre as duas. 

Nas sessões,os sonhos, transcritos, eram interpretados. Tenho certeza que se esta terapeuta tivesse lido meus sonhos, de um tempo atrás, não muito distante, ela teria material para uma enciclopédia surreal.  

Pois bem, acabei de despertar e vou escrever o que me lembro do sonho que há pouco tive. Escreverei aqui, direto, sem intermédio de um rascunho. 

O mais interessante é que a medida que você escreve, mais lembranças surgem. E a medida que pratica isso, durante as noites que desperta, com os sonhos prontos para virarem textos, naturalmente vai treinando a memória a fornecer mais detalhes dos sonhos. E muito em breve conseguirá, durante o sonho, se recordar de não esquecer certa parte, pois será importante ao posterior relato. 

Aqui temos uma breve história, acabo de sonhar com uma mulher, estava toda serelepe e sorria como uma criança. Ria, na verdade. Estava muito feliz e não demonstrava nenhuma preocupação. Namorava um cara de sua idade, jovem e gostava muito dele: percebia no olhar. Era uma relação pura, a dos dois. Fiquei com ciúmes (ainda não tenho maturidade para muitas coisas) mas compreendi como aquilo era bom para eles. Percebi através das atitudes, com ele, como se gostavam. Os olhares estavam radiantes. Só me aproximei uma vez, estava a observar de uma certa distância, quando sujei a perna com algo. Ela veio, por algum motivo, me ajudar a limpar, nesse único momento, o namorado ficou muito triste. 


Este foi o sonho. Eu era um observador de meu sonho. Acreditem, todos os sentimentos, deste sonho, foram transmitidos através dos olhos. Apenas os meus que não, eu os sentia.