As inscrições poéticas e a vontade de reviver os melhores momentos da minha vida.

Sem querer, hoje, ao arrumar um dos armários do apartamento que alugo em Ipanema, encontrei um dispositivo, do tamanho aproximado de uma caixa de sapatos (inclusive, não me recordo de ter visto uma caixa de sapatos nestes últimos longos meses). Parece ter sido produzido há uns 50, 60 anos. Na parte superior o texto: ‘Zeitmaschine’.
Após uma rápida consulta em um tradutor on-line, aprendi que ‘Zeitmaschine’ significa Máquina do Tempo. Acredito ter encontrado uma máquina do tempo se é que isso é possível.
Era uma máquina simples. Duas inscrições laterais, 1 botão vermelho, circular, com a inscrição ‘Gehen’ (ir, em português) e um “dial”, onde era possível selecionar qualquer data e hora entre o ano de 1945 e o ano de 2145. Um período de 200 anos. 
Havia uma folha, escrita a mão em frente e verso, com o título:’Benutzerhandbuch’ (manual de utilização, em português).
Novamente consultei o tradutor on-line e dessa vez longos minutos se foram até que eu conseguisse traduzir todo o manual. O manual dizia:
“Selecione a data que deseja viajar.  Apenas aconselhamos fechar os olhos no momento de apertar o botão ‘Ir’. Ao ativar este botão será impossível reverter o processo de envio de sua consciência para a data escolhida. A única e principal regra é: sua atual consciência será enviada, com segurança, para os períodos de tempo em que você se encontra vivo, ou seja, onde você exista. Portanto a viagem no tempo para o passado é a mais segura. Acreditamos que visitar algum ponto no espaço-tempo onde você ainda não exista ou deixou de existir, poderá aniquilar sua atual existência. Se esta máquina for utilizada, você nunca mais a verá, pois ela também viajará no tempo.”
Eram suficientes instruções para explicar perfeitamente a utilização. Mas insuficientes para encorajar a utilização. E se eu apertasse o botão e realmente alguém tivesse inventado uma máquina do tempo? A pretenciosa invenção me proporcionaria transitar no tempo, em qualquer ponto, num espaço de 200 anos? 
As inscrições nas laterais reforçavam, poeticamente, a única e principal regra descrita no manual de utilização.
Na lateral direita da máquina:
“Não tenhas receio do passado revisitar
pois por lá sua história irás reencontrar”
Na lateral esquerda da máquina:
“Se é o futuro que desejas alcançar
o melhor conselho é viver e esperar”
Tomei coragem, decidi utilizar a máquina.
E apesar de estar vivendo em um momento que gostaria que passasse muito rápido, as inscrições poéticas e a vontade de reviver os melhores momentos da minha vida (mesmo sabendo que reencontraria, também, muitos maus momentos) me fizeram escolher por uma data passada específica.
Tomei um bom banho, daqueles longos e quentes, me sentei em minha cama e escolhi a data e a hora… 21/04/1977 as 11:31 da manhã: um minuto após meu nascimento…fechei os olhos e apertei o botão.

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